Bolsonaro se filia ao PL: ‘Eu vim do PP e a decisão não foi fácil’

“O futuro a Deus pertence. Eu vim do PP e confesso, prezado Valdemar, a decisão não foi fácil. Conversei com outros parlamentares, uma filiação é como um casamento. Não seremos marido e mulher, seremos uma família”, brincou Bolsonaro em seu discurso, após pedir uma oração ao pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC).

A articulação para o ingresso de Bolsonaro no partido, presidido por Valdemar Costa Neto, começou no início de novembro, e teve várias idas e vindas.

“Vivemos um dia após o outro, mas desde sempre sabíamos que faltava um nome que representasse o nosso projeto para o Brasil. É nesse momento que o PL recebe a grande figura política do país”, discursou Costa Neto, e em seguida destacou programas do governo Bolsonaro. “Presidente Bolsonaro, seja bem-vindo ao 22, seja bem-vindo ao Partido Liberal”, acrescentou.

Terceira sigla de Flávio Bolsonaro

O PL é o terceiro partido ao qual Flávio Bolsonaro se filia, isso apenas neste ano. Foi eleito senador pelo PSL, depois de ter passado por PP, PFL, novamente o PP, e o PSC.

Após assinar sua filiação, o senador discursou enaltecendo o pai. “É uma grande honra ser seu filho, mas um eterno aluno e aprendiz de tudo que você ensinou como pai e político”, disse, e em seguida agradeceu a Costa Neto por “ter aberto as portas do partido para nós”.

Em 2021, o senador começou filiado ao Republicanos. De olho na possível entrada do pai no Patriota, em março Flávio rompeu com o Republicanos e ingressou na nova sigla.

Devido a desentendimentos no partido, Bolsonaro não se filiou ao Patriota. Depois de ter anunciado que iria para o partido de Costa Neto, Flávio acertou os detalhes de sua filiação com a cúpula liberal na última quinta-feira (25).

Além de Flávio e Jair Bolsonaro, a cerimônia foi dedicada à filiação de autoridades do governo federal. Os ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho e do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, também ingressaram no partido, acompanhando o presidente. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, embora tenha participado da cerimônia, não confirmou quando vai se filiar ao partido.

Marinho pretende disputar o governo do Rio Grande do Norte nas próximas eleições. Lorenzoni vai concorrer ao executivo do Rio Grande do Sul. Por sua vez, Tarcísio quer se lançar ao Senado por Goiás ou Mato Grosso, mas Bolsonaro tenta convencê-lo a se candidatar ao governo de São Paulo.

Segundo informações da assessoria do PL, o filho 03 do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro, atualmente no PSL, também ingressará na sigla dos liberais, mas ainda não se sabe quando ocorrerá.

Participaram da cerimônia os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Flávia Arruda (Secretaria de Governo), Paulo Guedes (Economia), Fábio Faria (Comunicação), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral) Tereza Cristina (Agricultura) e João Roma (Cidadania). Além deles, também compareceram parlamentares, dentre eles o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

Período turbulento até a filiação

O período entre o primeiro anúncio de que Bolsonaro iria para o PL e a filiação, no início de novembro, foi marcado por turbulências e bate-boca entre o chefe do Executivo federal com Costa Neto.

No início da articulação para a filiação do presidente – que ficou dois anos sem partido após ter saído, em novembro de 2019, do PSL que o elegeu em 2018 – a solenidade estava marcada para o 22 de novembro, em referência ao número da sigla.

Porém, a nova data escolhida, que é feriado facultativo no Distrito Federal pelo Dia do Evangélico, segue simbólica para o presidente e seus familiares, tendo em vista o apoio que possui entre alguns grupos protestantes.

Faltando uma semana para a primeira data marcada para o “casamento”, como Bolsonaro costuma dizer, ele e Costa Neto trocaram insultos durante a madrugada e cancelaram o evento.

Segundo informações divulgadas pela imprensa na época, o imbróglio ocorreu porque Costa Neto resistia à tentativa de Bolsonaro de intervir nos arranjos estaduais envolvendo apoio a partidos de oposição ao governo, como PT e PSDB.

Além disso, o filho 02 do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) pressionou o pai a desistir da filiação diante da repercussão negativa dos acordos com o Centrão – criticado por Bolsonaro durante a campanha de 2018 – e, em especial, com Valdemar Costa Neto, condenado pelo esquema do mensalão, de 2005.

Mas o cálculo feito pelos dirigentes do PL, terceira maior legenda da Câmara dos Deputados, foi suficiente para aquiescer os ânimos. Isso porque tendo Bolsonaro, o partido poderá eleger a maior bancada da Casa em 2022. Atualmente os liberais contam com 43 deputados e preveem aumentar para 65 nas próximas eleições.

Essa conta é determinante para o apoio à reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para mais dois anos no comando da Câmara. Essa articulação não é sem razão, pois PP e PL são os maiores partidos do Centrão, que sustentam o governo Bolsonaro no Congresso. Não por acaso conquistaram dois cargos do alto escalão do Palácio do Planalto: a Casa Civil está com Ciro Nogueira (PP) e a Secretaria de Governo, com Flávia Arruda (PL).

Rearranjos nos apoios estaduais

O ingresso de Bolsonaro no PL causa desconforto em, pelo menos, 15 cidades, cujos correligionários já cogitam abandonar o partido. Um desses casos é o Ceará.

A legenda se aliou ao PT e ao PSDB nas eleições municipais de 2020 para apoiar a reeleição do prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), irmão de Ciro Gomes, um dos rivais de Bolsonaro para a disputa de 2022.

Outro caso é o Piauí, cujo governador petista, Wellington Dias, conta com o apoio local do PL. Esse apoio, agora, está incerto. Além desses casos, em São Paulo também há conflito, pois os liberais prometiam apoiar Rodrigo Garcia (DEM), vice-governador de João Doria, ao governo do estado em 2022.

No entanto, Bolsonaro quer emplacar como governador paulista o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. O ministro, por sua vez, quer concorrer ao Senado por Goiás ou Mato Grosso.

De acordo com o senador Wellington Fagundes (PL-MT), o partido está disposto a rever apoios estaduais, incluindo à esquerda. “O partido tem consciência de que vamos receber o presidente da República”, afirmou.

Ainda segundo o senador, ficou decidido na reunião com dirigentes estaduais, que deram carta branca a Valdemar para organizar os apoios junto a Bolsonaro, que o presidente da República terá o aval do PL em São Paulo e outros estados, com candidato da sigla ou via coligação.

“Será tudo conversado e analisado caso a caso. Estamos recebendo o presidente com uma posição ideológica muito clara, de centro-direita. Dificilmente acontecerá uma coligação com partidos de esquerda”, declarou Fagundes.

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