Como esperado, o presidente Jair Bolsonaro destacou o atual cenário econômico do Brasil
Como esperado, o presidente Jair Bolsonaro destacou o atual cenário econômico do Brasil durante o discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na manhã desta terça-feira (20). De acordo com o presidente, o país está avançando “a passos largos para cooperação e desenvolvimento econômico” para o ingresso à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e chega ao final de 2022 com uma economia em plena recuperação.
Boa parte do discurso foi dedicado à queda da inflação. O presidente destacou que o preço da gasolina caiu mais de 30% e que o país vivenciou uma deflação “inédita” nos meses de julho e agosto. Realmente, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador de inflação do país, foi de 0,36% em agosto. No ano, o IPCA acumula alta de 4,39% e, nos últimos 12 meses, de 8,73% (no mês anterior, o acumulado estava em 10,07%).
A redução da inflação parece estar deixando o mercado mais otimista. Tanto que o Boletim Focus desta segunda-feira (19), elaborado pelo Banco Central, reduziu novamente a previsão para o IPCA, de 6,40% para 6%. A meta para o ano é de 5%.
Mas os números do IPCA não se refletem totalmente no cotidiano de todos os brasileiros. O professor de economia e analista aposentado do Banco Central Paulo Machado Feitosa explica que a deflação só aconteceu porque o governo federal forçou uma redução do ICMS sobre combustíveis e energia elétrica (estabelecendo um teto de 18%, conforme a Lei Complementar 194) e retirou a cobrança dos tributos federais sobre eles até o fim do ano.
Isso permitiu uma redução considerável do preço da gasolina, especialmente, mas isso não se refletiu completamente nos valores de outros itens básicos, como os alimentos, que possuem um peso muito maior sobre os gastos dos mais pobres.
“O peso da gasolina e da energia é muito significativo na avaliação do IPCA. Se você observar os outros núcleos analisados pelo IBGE para o cálculo da inflação, verá que os preços estão estáveis ou subindo”, explica o professor, reforçando que essa interferência do governo sobre o valor dos combustíveis impacta diretamente os cofres públicos de Estados e Municípios.
Mas Bolsonaro preferiu, durante o discurso na Assembleia Geral da ONU, não falar em interferência estatal nos valores praticados ou sobre o impacto na conta de luz da retirada da cobrança da tarifa excepcional de escassez hídrica (hoje a bandeira é verde, ou seja, não há cobrança extra). Segundo ele, o preço da energia caiu “não por causa de tabelamento de preços, mas por uma política de racionalização de impostos implementada com apoio do Congresso Nacional”.
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