Exploração do mineral polivalente usado em baterias como as que movem carros elétricos leva expectativa de prosperidade à região conhecida pela carência.
A planta de exploração da Sigma Lithium, que estima produzir 130 mil toneladas este ano e projeta capacidade de 766 mil toneladas em 2024.
Morador da localidade de Piauí, na zona rural de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, Ismael Chaves dos Santos, de 35 anos, se lembra do sofrimento ao longo dos oito anos em que foi obrigado a buscar a sobrevivência no corte de cana em terras distantes, só retornando para rever a família depois de meses.
Hoje, empregado a 18 quilômetros de onde mora, ele sempre volta para casa de moto após a jornada como operador de máquinas. Além de Deus, Ismael, assim como muitos outros moradores, agradece à nova esperança de redenção para uma região historicamente conhecida pela carência: a corrida pela exploração do lítio.
Como o ex-cortador de cana que há oito meses trabalha na Sigma Lithium, empresa que explora o mineral, muita gente que antes não tinha perspectiva de trabalho testemunha a esperança de uma revolução na economia, que promete transformar o Jequitinhonha em uma espécie de vale de prosperidade.
As mudanças no Jequitinhonha são sentidas não somente na geração de empregos, mas também no comércio, na arrecadação de impostos municipais e na melhoria da qualidade de vida, o que é fundamental em cidades como Itinga, que já foi considerado um dos municípios mais carentes do Brasil – o que motivou a sua escolha como um dos locais do lançamento do Programa Fome Zero (incorporado ao atual Bolsa-Família), em 2003, no primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Planta bilionária pode multiplicar PIB
Denominado Grota do Cirilo, o projeto de extração tem a perspectiva de produção de US$ 5,1 bilhões em lítio apenas nas duas primeiras das três fases de exploração. O grupo informa já ter acordos firmados com alguns dos maiores players do mercado mundial para a produção de baterias, como a LG, empresa que fornece peças para montadoras como Volkswagen, GM, Fiat Stellantis, Audi e Porsche.
Segundo a Sigma, o lítio retirado e beneficiado na região tem valor estimado em até US$ 6 mil a tonelada, enquanto o material bruto chega a US$ 60/ton. A empresa paga royalties – dos quais 60% ficarão com Araçuaí. A estimativa é de que o PIB local cresça 47%, passando de R$ 337 milhões para R$ 497 milhões. Em Itinga, o salto estimado é percentualmente maior, de 135%, passando de R$ 118 milhões para R$ 278 milhões.
Imposto e emprego
Outro que apostou no crescimento do lugar foi Lacir Barbosa de Almeida Júnior, que, há um ano e meio montou uma loja de materiais de construção em Taquaral. Com o reflexo da atividade mineral, ele destaca que subiu a renda per capita, o que contribuiu também para a fixação dos moradores no distrito
Impacto socioeconômico
Números da Sigma Lithium no Vale do Jequitinhonha
Araçuaí vê tempo de prosperidade.
Uma das cidades mais populosas do Vale do Jequitinhonha, com 36,7 mil habitantes e IDH de 0,663, Araçuaí tem expectativa de que a corrida do lítio impulsione ainda mais sua economia. A esperança está ligada especialmente ao fato de contar com melhor infraestrutura de serviços, como hospedagens e atendimento de saúde.