Durante a quarentena do novo coronavírus, que já dura mais de três meses em boa parte do país, cerca de 60% dos brasileiros, segundo as pesquisas, conseguiram manter o peso e 17% até emagreceram, ao contrário do que se poderia imaginar inicialmente. Mas, entre os mais pobres, isso não foi uma decisão voluntária, mas uma restrição compulsória.
Muitos dos que perderam o emprego, tiveram o trabalho suspenso ou a jornada reduzida estão comendo menos, porque simplesmente não têm dinheiro para se alimentar bem. Além de terem ficado sem as refeições no trabalho, em geral subsidiadas pelo empregador e mais balanceadas do ponto de vista nutricional, o problema se agravou com a falta da merenda escolar das crianças.
A dona de casa Claudia Fátima Nassar Reis, que mora no bairro do Morumbi, em São Paulo, conta que Sílvia, sua empregada, teve de recorrer a marmitas distribuídas gratuitamente por organizações sociais na comunidade de Paraisópolis, mesmo recebendo o salário integral, apesar de sua jornada de trabalho ter sido reduzida na quarentena. Foi a forma que ela encontrou para alimentar a si mesma e aos filhos, que Sílvia cria sozinha.
“Muitas pessoas estão passando necessidade mesmo e tiveram que diminuir o consumo alimentar”, diz a nutricionista Marcia Nacif Pinheiro. “Antes, com a merenda escolar, a situação era bem melhor. Agora, nem isso eles têm.”
Conhecimento menor. Nas faixas de menor renda, segundo ela, há também o grupo dos que conseguiram manter a capacidade de consumo de alimentos, mas têm um conhecimento sobre alimentação muito menor do que a classe média e média alta. Muitas vezes, na hora de ir ao supermercado, acabam escolhendo produtos com mais carboidrato, gordura e açúcar, que, apesar de serem saborosos, podem prejudicar a saúde quando consumidos em excesso.