Especialista em Direito Eleitoral e Políticas Públicas, o professor do Ibmec e da Fundação Dom Cabral Bruno Carazza lembra que tanto a legislação eleitoral quanto a Lei de Responsabilidade Fiscal impõem limites temporais para a concessão de aumentos a servidores ou a contratação de novas despesas de outras naturezas, com o objetivo de combater o uso da máquina pública em ano de eleições, mas que os políticos conseguem se antecipar, viabilizando os reajustes dentro dos prazos legais.

— Governantes em geral apertam o cinto no início do mandato e, perto das eleições, abrem as torneiras do gasto público, lançando obras, criando novas políticas públicas e concedendo aumentos salariais aos servidores — destaca o pesquisador. — Neste ano, os governadores ainda estão se beneficiando de um contexto de dois anos de pandemia, em que as travas fiscais foram afrouxadas e as transferências da União cresceram muito. Com os cofres cheios, a pressão para a concessão de aumentos salariais subiu.

Longo prazo

Embora, por fatores conjunturais, a arrecadação do ICMS e dos repasses para o Fundo de Participação dos Estados (FPE) tenha crescido, há risco de os reajustes e o aumento de despesas com foco nas eleições afetarem a posição fiscal de longo prazo dos estados.

As altas salariais também elevam a pressão no governo federal, após o presidente Jair Bolsonaro ordenar um aumento salarial para policiais federais, agentes penitenciários e Polícia Rodoviária Federal. Em meio à ameaça de greve dos servidores, a equipe econômica busca alternativas para atender a algumas categorias. O ministro Paulo Guedes chegou a comparar reajustes à tragédia de Brumadinho.

No Rio, os servidores estavam sem reajuste desde 2014. O governador, Cláudio Castro (PL), anunciou aumento de 10% em fevereiro para todo o funcionalismo. Com a verba da concessão da Cedae, o governo fluminense já havia lançado um plano de R$ 17 bilhões em obras para os próximos anos, que inclui grandes intervenções de infraestrutura e pavimentação de estradas.

Já Wilson Lima (PSC), que busca a reeleição no Amazonas após a crise da pandemia e por investigações de corrupção na compra de respiradores, aprovou altas salariais que vão de 3,3% a 31,63%, dependendo da categoria, e que beneficiarão mais de 70 mil servidores. O governo de Rondônia, do também aliado de Bolsonaro Marcos Rocha (PSC), concede a partir deste mês reajuste para algumas carreiras, como servidores do Detran (36,5%) e policiais militares (8%). O governador tentará um novo mandato.

Em São Paulo, João Doria (PSDB), que deve disputar a Presidência, apresentou um novo plano de carreira para professores com aumento de até 73% no salário inicial e será enviado à assembleia do estado este mês. Sobre as demais categorias, o governo diz que “acompanha a evolução da economia e da arrecadação” para definir políticas salariais e gratificações. O governo do estado também lançou no ano passado um plano para mais de 8 mil obras com investimento de quase R$ 50 bilhões.

O governador Rui Costa (PT) conseguiu aprovar na Assembleia da Bahia reajuste geral do funcionalismo de 4% a partir de março. Haverá ainda incremento de R$ 300 ao vencimento básico de servidores da Educação, Saúde e Segurança a partir de abril, e de R$ 200 para os de vencimento básico abaixo do mínimo. No estado, o senador petista Jaques Wagner disputará o governo.

No Pará, o governador Belder Barbalho (MDB) aprovou em outubro aumento para 40 mil professores da rede estadual de ensino, uma promessa de campanha. Com custo de R$ 850 milhões, a remuneração elevará, em média, 24% para todos os servidores.