Nesta quinta-feira (24) é celebrado os 90 anos da conquista do voto feminino no Brasil. Após décadas de luta, em 24 de fevereiro de 1932, as mulheres passaram a ser autorizadas a votar no país. Quase uma século depois, as eleitoras são maioria em Mato Grosso do Sul, apesar disso, apenas 18% dos cargos políticos no estado são ocupados por elas.
A doutora em Relações Internacionais, professora e coordenadora do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Déborah Monte, comenta que a inclusão das mulheres nos processos políticos foi tardia e resultado de muitas lutas.
“Historicamente, a política se consolidou como um espaço público de poder e, de maneira geral, a atuação das mulheres foi reservada apenas ao ambiente privado e doméstico”, completa Monte.
Segundo o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE/MS), dos 1.854.600 eleitores no estado, 979.025 são mulheres, o que representa 52,78% de todo o eleitorado.
Contudo, quando se trata da representação de mulheres em cargos políticos no estado, elas estão bem longe de ser a maioria. Nas lideranças das prefeituras, do governo estadual, dos vereadores, dos senadores e dos deputados estaduais e federais do estado, apenas 186 são mulheres.
A doutora em Relações Internacionais lembra que os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) sobre outras formas de trabalho de 2019 demonstram que 85,7% da população brasileira realiza afazeres domésticos não pagos, sendo que as mulheres correspondem a 92,1% desta parcela.
“Esses dados confirmam a tendência da pesquisa Pnad 2016, em que as mulheres, especialmente as pretas e pardas, destinam um tempo significativamente maior aos trabalhos domésticos, média de 18,1 horas semanais, do que os homens, que têm média de 10,5 horas semanais”, cita Monte.
Nas prefeituras
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nas eleições de 2020 foram eleitos 75 prefeitos e vice-prefeitos, destes 5 mulheres tornaram-se prefeitas e 13 vice-prefeitas.
A doutora ainda ressalta que o rendimento médio das mulheres também é menor do que o dos homens, mesmo quando elas apresentam maior escolaridade. Dessa forma, isso contribuiu para uma menor participação política delas.
“As condições de menor disponibilidade de tempo e renda inferior representam adversidades que se traduzem em uma baixa participação política”, explica.
Entre os vereadores, senadores e deputados
Entre os vereadores, 19,27% são mulheres. Apenas uma mulher compõe as cadeiras dos deputados estaduais junto com 23 homens.
“No Brasil, as cotas de gênero nas candidaturas estão previstas desde 1995, mas só foram implementadas em 2009 pela Lei n. 12.034. Este instrumento obriga que, em eleições proporcionais, haja no mínimo 30% e no máximo 70% de candidaturas de cada gênero. Vale lembrar que a “Lei de Cotas” institui um número mínimo de candidaturas femininas, e não de cargos efetivamente ocupados”, explica Monte.
A representação das mulheres na política em Mato Grosso do Sul é um pouco maior entre os deputados federais, sendo 25% mulheres.
Somente entre os representantes do estado no Senado é que as mulheres são maioria, sendo duas e um homem.
Déborah Monte ressalta que aumentar a representatividade é necessário. “[Isso faz] com que a classe política “se pareça” mais com os cidadãos que ela representa, e que sem a devida problematização da divisão sexual do trabalho, as democracias tendem a não contemplar as desigualdades de gênero”, finaliza.
G1 MATO GROSSO SUL