Queiroga será convocado para depor de novo e deve ser indiciado;
Senadores alegam que o ministro ignorou pedido do colegiado e tem propagado medidas ineficazes para conter a pandemia, além de estudar liberação de máscara;
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid vai convocar o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para novo depoimento. Eles alegam que o titular da pasta ignorou pedido do colegiado e tem propagado medidas ineficazes para conter a pandemia, além de estudar a liberação do uso de máscara.
Vice-presidente do colegiado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) lembrou, na manhã desta quinta-feira (7), que Queiroga não respondeu a um requerimento aprovado pela CPI. De acordo com o pedido, Queiroga teria 48 horas para prestar informações sobre o Plano Nacional de Imunizações para 2022.
“Ele não respondeu. Tenho dúvida de quanto tempo Marcelo Queiroga ainda ficará no Ministério da Saúde. Ele está cada vez mais se “pazuellando”, cada vez mais parecido com [o ex-ministro da Saúde Eduardo] Pazuello. O negacionismo continua ocorrendo. Não descartemos a vinda de Marcelo Queiroga à comissão. Ainda temos duas semanas”, afirmou Rodrigues.
Randolfe recebeu o apoio de alguns membros da comissão, como Tasso Jereissati (PSDB-CE). A nova convocação do ministro da Saúde foi pedida e decidida no início da sessão da CPI, nesta manhã. A data do depeoimento, porém, não foi definida.
Além disso, o senador apontou interferência de Queiroga na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no Sistema Único de Saúde (SUS), que retirou da pauta da reunião de hoje a análise de um parecer sobre o uso da cloroquina para o tratamento da Covid-19.
Os senadores aprovaram requerimento pedindo explicações para a Conitec sobre a alteração na pauta da reunião.
Renan vai propor indiciamento do ministro da Saúde
Relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou que o seu relatório vai propor o indiciamento do ministro da Saúde.
“A gente já teve acesso a tanta coisa do ministro da Saúde, a sua conversão ao negacionismo, as mentiras repetidas nas duas vezes que esteve na comissão parlamentar de inquérito, agora a suspensão das vacinas para adolescentes”, afirmou Renan, antes do início da sessão desta quinta.
“Ele (Queiroga) já produziu todos os motivos, provas e indícios para ser exemplarmente indiciado”, completou o senador.
CPI pede cópia de boletim de ocorrência feita pela Capitão Cloroquina
Ainda na manhã desta quinta, a CPI aprovou requerimento de Randolfe Rodrigues para pedir à Polícia Civil do Distrito Federal uma cópia do boletim de ocorrência registrado pela secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, contra João Lopes de Araújo Júnior, chefe de gabinete de Marcelo Queiroga.
Também conhecida como Capitã Cloroquina por defender o uso da ineficaz hidroxicloroquina contra a covid-19, Mayra Pinheiro diz que tem sido ameaçada e acusada injustamente por Araújo Júnior em conversas por aplicativo.
Em mensagens anexadas ao boletim de ocorrência, Araújo Júnior acusa Mayra Pinheiro e o ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) de atuarem em conjunto para derrubar Marcelo Queiroga.
Em uma das mensagens, Araújo Júnior diz que Mayra “está cometendo um crime” e que ela “não tem qualquer lealdade ao ministro” (Queiroga).
Araújo Júnior ainda afirma que sabe da ligação da secretária com o ministro Onyx Lorenzoni e diz que conhece “todos os nomes envolvidos nessa tentativa de retirada do ministro”.
Por fim, João diz para Mayra ter cuidado e se preparar, porque “vai ver a mão de Deus” sobre ela.
O caso foi revelado pela CBN Brasília e confirmado pelo O TEMPO. Registrado na Polícia Civil do Distrito Federal, com imagens e arquivos de áudio e de vídeo anexados, ele foi encaminhado à Polícia Federal por envolver ministros.
Enquanto isso, Marcelo Queiroga segue pressionado pelo Planalto por não tomar posições que Bolsonaro deseja, como a liberação do uso de máscara.
Já Mayra é alvo da CPI da Covid por integrar o chamado gabinete paralelo que orientaria o presidente Jair Bolsonaro em medidas ineficazes no combate à pandemia.
Paciente e ex-médico da Prevent Senior depõem nesta quinta
A CPI ouve nesta quinta Tadeu Frederico Andrade, cliente da Prevent Senior, e Walter Correa de Souza Netto, ex-médico da operadora de planos de saúde.
No depoimento do médico Walter Correa de Souza Neto, os senadores vão procurar saber se havia cerceamento da autonomia médica e profissional do corpo clínico da Prevent Senior e se realmente havia distribuição indiscriminada do chamado kit covid.
Os integrantes da CPI também devem questionar se havia aplicação de terapêuticas para tratamento não autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou não aprovadas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
O pedido para ouvir ambos, na condição de testemunhas, partiu do senador Humberto Costa (PT-PE). Ele afirmou ser necessário também esclarecer se ocorreu fraude em estudo clínico conduzido pela Prevent Senior sobre a segurança e eficácia do uso de hidroxicloroquina em associação com azitromicina em pacientes leves e se houve inadequação do encaminhamento de pacientes para cuidados paliativos.
Em seu requerimento para ouvir o paciente da operadora, Humberto Costa relata que Tadeu Frederico de Andrade contou ter sido infectado pela covid-19 no Natal e, por telemedicina na Prevent Senior, foi-lhe receitado o chamado kit covid. Seguindo a prescrição, Andrade tomou a medicação, mas seu quadro clínico se agravou, necessitando de internação em unidade de tratamento intensivo (UTI).
Após um mês na UTI, a equipe da Prevent, segundo alegado pelo beneficiário, queria tirá-lo da internação para economizar custos, colocando-o sob cuidados paliativos. A família se recusou a aceitar tal mudança terapêutica. Por fim, Andrade se recuperou, mas denunciou a Prevent Senior à comissão parlamentar de inquérito e ao Ministério Público de São Paulo.
JORNAL O TEMPO