Um violão mudaria minha vida’, diz cantor em situação de rua em BH

Wagner Fernandes vê na música a chance de mudar a própria história.

Em quatro anos, desde que saiu do Rio de Janeiro só com uns trocados no bolso e o violão nas costas, o carioca Wagner Fernandes, de 32 anos, passou por pelo menos seis cidades até chegar a Belo Horizonte. Deixou para trás uma família e uma história. No caminho, ele perdeu quase tudo do pouco que tinha: gastou todo o dinheiro com alimentação e moradia e, para piorar, teve o violão roubado enquanto dormia na praça da Estação, na região central da capital mineira. Sobrou uma voz de cantor profissional e a esperança de um dia conseguir se sustentar por meio da música.

Antes de ser roubado, Fernandes, que é chamado de “Negão” nas ruas, se apresentava em pontos movimentados da região Centro-Sul de Belo Horizonte em troca de moedas. Ele chegou a conseguir serviços em bares da Savassi, com a ajuda de um conhecido. Depois que perdeu o instrumento musical, teve que improvisar. “Eu estava dormindo, e, quando acordei, o violão não estava mais lá. Então, agora estou tocando só com a voz”, conta com o bom humor que consegue ter mesmo em dificuldade. E, quando ele solta a voz, leva alegria até para quem, como ele, dorme e acorda no concreto das ruas de BH. Os passeios da capital são para ele a cama, a mesa e o palco. Mas, com a redução do movimento na cidade em função da pandemia de coronavírus, a atividade tem dado menos retorno financeiro.

Negão diz que foi parar na rua por não ter o estilo de vida compreendido pela família e por ter sido seduzido pela sensação de liberdade. As drogas também tiveram uma parcela de responsabilidade. Mas agora ele se diz arrependido e espera ter a oportunidade para mudar de vida. “Eu daria muito valor de ter casa novamente e uma família, porque tudo que fiz eu classifico como aventura”, afirma. Para ele, a reconquista de tudo isso passa pela recuperação de um violão. “Se eu tivesse um violão hoje, mudaria minha história, porque é o que eu sei fazer de melhor”, garante.

Porta para o sucesso

Para Fernandes, um violão pode ser a porta do sucesso e também um aconchego em meio ao frio e à falta de recursos imposta pela vida nas ruas. “Tinha momentos em que estava mal, então pegava o violão e tocava”, conta. Mas ele quer ir além: “Eu gostaria de ter oportunidade para mostrar minha música, crescer e mudar minha história”, afirma. O cantor tem em quem se inspirar. “Falta é oportunidade, como o Seu Jorge teve. Fiquei sabendo que ele tem uma história parecida com a minha”, diz. Antes da fama, Seu Jorge morou na rua.

Natural do Rio de Janeiro, Fernandes foi conquistado por Belo Horizonte. “Há dois anos estou em BH, mas do nada eu posso ir para o Rio. Eu gostei muito de BH e estou tentando criar raízes aqui. Gostei da geografia e do mineiro em si”, contou. Ele já morou em Búzios, Vitória, Vila Velha e Cachoeiro do Itapemirim, entre outras cidades.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, a mãe de Fernandes, Dalva Helena, torce para que um dia ele volte para a cidade natal e seja feliz. “Eu creio que Deus tem algo sobrenatural pra vida do meu filho”. Essa frase é parte do relato que a mãe do cantor fez nas redes sociais. Dalva conta que o filho, adotado por ela quando ele tinha apenas 3 dias de vida, estudou em escolas particulares e cresceu cantando na igreja, o que começou a fazer aos 3 anos. No fim do relato, a mãe faz um apelo: “Amo o meu filho e, como ele mesmo diz, sou sua melhor amiga. Não nos julguem”.

Fonte: O Tempo