Vídeo mostra PM carregando adolescente que morreu após ser baleado durante abordagem policial.

Um vídeo gravado por testemunhas mostra um policial militar carregando, junto com outro homem, o adolescente Victor Kawan Souza da Silva, de 17 anos, que morreu após ser baleado durante uma abordagem da PM, na Zona Norte do Recife (veja vídeo acima). Dois cabos da corporação foram afastados enquanto durarem as apurações criminais e administrativas.

Testemunhas contaram à família que não houve troca de tiros, contrariando a versão da polícia, e relataram que foram os próprios moradores que encontraram Victor Kawan caído na mata. A Polícia Civil não divulgou detalhes da investigação, nem se essa versão já foi contada oficialmente.

As imagens, que são fortes, foram gravadas em uma área de mata e, no vídeo, é possível ver Victor Kawan desfalecido, sem qualquer reação, sendo carregado pelo PM e por um homem sem camisa. Algumas pessoas assistem à ação enquanto os dois homens descem um morro levando o menor de idade.

Segundo moradores da região contaram para os parentes do adolescente, o jovem já estaria morto quando foi retirado da mata. A família teve acesso às imagens e disse que a pessoa carregada é, de fato, Victor Kawan.

No vídeo, também é possível ver que, após descerem o morro, o policial e o homem colocam o adolescente no chão e saem andando. A Polícia Militar informou, por meio de nota enviada no domingo (12), que o menino foi socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá, na Zona Oeste do Recife, mas “não resistiu aos ferimentos”.

g1 apurou, junto à UPA, que Victor Kawan já chegou morto à unidade de saúde. Ele foi vítima de um único disparo, que atravessou o corpo de uma costela à outra. A Secretaria Estadual de Saúde (SES), no entanto, não confirmou o caso e afirmou que somente a família pode ter acesso a prontuários médicos.

Relato de testemunhas

 

Ainda segundo testemunhas, uma mulher viu a ação dos policiais e perguntou o que eles estavam fazendo. Nesse momento, de acordo com o relato feito à família, Victor Kawan e o colega desceram da moto com as mãos na cabeça e, logo atrás, vinha um carro da PM.

Victor Kawan teria corrido em direção à mata para se proteger e o amigo dele, Wendel Alves, de 18 anos, teria se escondido atrás de uma casa. Um homem e uma mulher do 11º Batalhão compunham a equipe de policiais.

As testemunhas informaram, ainda, que após atirar, eles saíram da comunidade, mas foram informados de que havia um corpo na mata. Os moradores da região disseram que parte dessas pessoas falaram com policiais civis.

Victor Kawan Souza da Silva, de 17 anos, foi morto durante uma abordagem da PM no Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
Victor Kawan Souza da Silva, de 17 anos, foi morto durante uma abordagem da PM no Recife

Investigação

 

Diante dos relatos e do vídeo, o g1 perguntou a Secretaria de Defesa Social (SDS) se alguma perícia foi feita no local em que o jovem foi baleado e, se não, o porquê.

Além disso, a reportagem questionou qual o tipo de procedimento adotado para o outro rapaz e em qual delegacia o caso foi registrado, bem como o que aconteceu com a arma que os policiais militares haviam dito no domingo (12) que apreenderam .

A SDS não respondeu aos questionamentos e enviou uma nota em que informa que “todos fatos relativos a essa ocorrência estão sendo alvo de duas investigações”.

Na esfera criminal, a 5ª Delegacia de Polícia de Homicídios, sob coordenação do delegado Roberto Lobo, instaurou um inquérito policial. Administrativamente, a Corregedoria Geral da SDS está apurando possíveis infrações disciplinares cometidas pelo efetivo policial que atuou no caso.

A SDS lembrou que afastou cautelarmente dois policiais militares das atividades operacionais, enquanto durarem as apurações criminais e administrativas.

“Outras informações serão dadas com a conclusão dos trabalhos, conduzidos com seriedade e isenção para, no momento oportuno, esclarecer os fatos e dar respostas à sociedade”, afirmou a secretaria.

Depoimento

Pai do adolescente morto em abordagem policial presta depoimento

O pai de Victor Kawan e um amigo do jovem prestaram depoimento à Polícia Civil nesta quarta-feira (15). Foram à delegacia o pai do jovem, José Luiz Amâncio, e o colega dele, Wendel Alves, de 18 anos. O colega é o que pilotava a moto em que o menor de idade estava quando houve a ação policial (veja vídeo acima).

Ao se encontrarem, o pai e o amigo de Victor Kawan se abraçaram, bastante emocionados, e se ampararam até a porta da delegacia.

O depoimento começou de Wendel por volta das 9h20, na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil, no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife. Pouco antes do meio-dia, foi o pai de Victor que entrou para ser ouvido. As oitivas são feitas pelo delegado Roberto Lobo, que não quis falar com a imprensa no local.

O caso

Família de jovem morto em abordagem policial pede justiça

Victor Kawan Souza da Silva morreu no sábado (11), depois de ser baleado no bairro de Sítio dos Pintos. Ele estava em uma moto com o amigo Wendel Alves, que o chamou para capinar um terreno. Wendel afirmou que não tinha carteira de motorista e, por isso, não obedeceu de imediato a ordem de parada.

Esse outro jovem foi detido pela PM, que disse ter apreendido um revólver calibre 38 com seis munições, mas não divulgou imagens da arma e nem divulgou informações sobre o que foi feito com esse material supostamente apreendido.

família de Victor denunciou que os “policiais já foram atirando” e pediu justiça (veja vídeo acima). Assim, os parentes contrariaram a primeira versão da PM, divulgada no domingo (12), de que tinha ocorrido um “tiroteio”.

Adolescente morre depois de levar um tiro em Sítio dos Pintos, na Zona Norte

Segundo a mãe do adolescente, Janaína de Souza, Victor Kawan era bastante querido na comunidade onde morava .

Apesar de não ter idade para trabalhar formalmente, o jovem não ficava parado e, a todo tempo, desempenhava pequenos trabalhos para vizinhos e parentes. Ele trabalhava num lava a jato do irmão e numa lanchonete. No dia em que morreu, segundo os pais e a irmã, tinha ido capinar um terreno.

G1 MG