Lula conversa com primeiro-ministro da Espanha em agenda oficial.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, no Palácio de Moncloa, em Madri, sede do governo espanhol, nesta sexta-feira (19).

Em suas redes sociais, Sánchez disse que o encontro serviu para discutir sobre a pandemia do coronavírus, mudanças climáticas e a recuperação econômica. Ainda conforme o primeiro-ministro, ambos compartilham “fortes vínculos estruturais e permanentes em várias áreas”.

Também por meio das redes sociais, Lula disse que a conversa trouxe uma troca de experiências e trocas de preocupações.

“Falamos sobre a integração europeia e da América Latina, além da importância das relações Brasil-Espanha. Também conversamos sobre nossas experiências na construção de políticas públicas de combate à desigualdade. E dividimos a preocupação com o tema das mudanças climáticas e a importância da solidariedade entre as democracias no enfrentamento ao avanço da extrema direita”, escreveu o ex-presidente brasileiro.

Ainda em Madri, Lula terá um encontro com a secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), Rebeca Grynspan.

A economista, ex-vice-presidente da Costa Rica, é uma reconhecida defensora da redução da pobreza, da igualdade de gênero e da cooperação Sul-Sul como ferramenta para o desenvolvimento sustentável. Grynspan é a primeira mulher centro-americana a liderar a UNCTAD, braço da ONU para o apoio e integração dos países em desenvolvimento.

A Espanha é o último país do giro de Lula pela Europa. Ele cumpriu este mês agenda na Alemanha, Bélgica e França.

Na quarta-feira (17), Lula, que é pré-candidato a presidente, esteve por mais de uma hora com o presidente francês, Emmanuel Macron, e definiu uma agenda comum de luta contra a pobreza, as desigualdades, em defesa do clima, da democracia e da multipolaridade.

Na Alemanha, o petista reuniu-se terça-feira (13) com o vice-chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, que deve substituir Angela Merkel como primeiro-ministro.

Ex-presidente defende união contra a fome

Na quinta, Lula participou do seminário “Cooperação multilateral e recuperação regional pós-Covid-19”, promovida pelo Common Action Forum (CAF), na Casa América. O ex-primeiro-ministro espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, com quem Lula já se encontrou no Parlamento Europeu no início da semana, também participou do evento.

Em discurso no evento, o petista destacou que o combate à desigualdade pós-pandemia será um desafio tão grande quanto o enfrentado durante a crise causada pelo coronavírus.

“É urgente convocar uma conferência mundial, com representação de todos os Estado, e participação da sociedade civil, para definir uma nova governança global, justa e representativa”, afirmou Lula.

De acordo com o ex-presidente, recursos para reduzir a desigualdade e combater a fome mundial já estão disponíveis, bastando ‘vontade política’ desta ‘aliança global’.

“Os países ricos investiram quase 2 trilhões de dólares para salvar o sistema financeiro durante a crise de 2008. Os Estados Unidos gastaram 8 trilhões de dólares nas suas guerras no Oriente Médio. Ou seja, recursos financeiros existem”, disse

“Infelizmente, não vemos a mesma generosidade quando se trata de salvar o planeta do aquecimento global, combater a crescente desigualdade e eliminar a miséria no mundo”, completou Lula.

O petista disse ainda que, “com a saída de Jair Bolsonaro em 2023, o Brasil passará por uma reconstrução antes de voltar a ser exemplo para o mundo”.

“Muito em breve nós voltaremos a fazer do Brasil um exemplo para o mundo de que é possível vencer a extrema pobreza e a fome, num curto espaço de tempo”, disse.

Desigualdade na distribuição de vacinas

Lula também criticou o desequilíbrio na distribuição das vacinas contra a Covid-19, resultando em um quadro sanitário e econômico catastrófico para os países mais pobres.

O ex-presidente chamou atenção para o fracasso das metas de imunização da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabeleciam a vacinação de 10% da população de cada país até o fim de setembro.

“No entanto, quando setembro chegou, mais de 50 países ainda não haviam atingido a meta inicial, que era bastante tímida. E apenas 2% da população das nações de baixa renda haviam recebido ao menos uma dose da vacina”, disse Lula. “Vivemos um verdadeiro “apartheid de vacinas”, como definiu o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom”, comentou Lula.

“Em países como Benin, República Democrática do Congo, Chade, Guiné-Bissau e Etiópia, a taxa de vacinação não chegava a 1%”, acrescentou.

Ele voltou a defender a quebra de patentes das vacinas para permitir uma distribuição mais equitativa. “Reconstruir o mundo pós-covid significa, portanto, dizer que a vida é o bem mais precioso que existe, e que a propriedade intelectual, que enriquece uma minoria, não pode estar acima da sobrevivência de toda a humanidade”.

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