Mineira que sofreu racismo em boate de São Paulo registra boletim de ocorrência: ‘Não vou deixar pra lá, vou até o fim’.
A mineira Fabrícia Barbosa de Souza, de 25 anos, que sofreu um ataque racista e agressão física na madrugada de domingo (14) em uma boate no bairro Jardim Paulista, na Região Oeste de São Paulo, registrou boletim de ocorrência na manhã desta terça-feira (16).
“Sentimento de alívio, de dar o primeiro passo. Espero que ele seja identificado e que a Justiça seja feita. Estou com um vazio grande, estou atordoada e constrangida, mas não vou deixar pra lá, vou seguir até o fim”, disse Fabrícia ao g1, na manhã desta terça.
A administradora, que mora em Sete Lagoas, na Região Central de Minas, disse que tentou fazer o boletim de ocorrência desde segunda, mas não conseguiu, porque a delegacia a que ela foi estava fechada e o sistema estava fora do ar na internet.
Ela registrou a ocorrência on-line em uma delegacia de São Paulo.
Relembre o caso
Fabrícia contou ao g1 no dia 15 de novembro que, durante viagem à capital paulista, ela foi até a casa noturna chamada Bofetada com um grupo de amigos. Ela falou que, durante a noite, foi agredida por um dos frequentadores e acusada de furto.
“Ele falou que roubei o telefone e começou a gritar. E eu falei que não tinha pegado. Chegou um rapaz desconhecido e tentou me ajudar. Nisso, ele continuava me acusando, dizendo ‘olha para a cara dela, ela roubou meu celular'”, relembra Fabrícia.
Segundo a administradora, o rapaz ficou mais alterado e puxou e apertou o braço dela, enquanto a mandava “devolver o telefone”.
“Ele estava muito agressivo. Ele tentou me coagir na parede, enquanto isso, um rapaz desconhecido tentava intervir sem deixar que ele encostasse em mim”, conta.
Vítima fala em falta de apoio
Fabrícia falou que ela e o suspeito foram retirados da casa e levados para o lado de fora. Neste momento, ela disse que chamaria a polícia, mas os seguranças tentaram relativizar a situação, dizendo que não era necessário.
“Falaram que era assim mesmo, que não precisava [acionar a polícia]. O cara continuou falando que eu roubei enquanto estava perto dos seguranças, e eles conversavam normalmente como se nada tivesse acontecido”, diz a administradora.
Em seguida, um dos amigos do frequentador chamou um carro de aplicativo para que ele fosse embora do local.
“O amigo dele estava lá fora, chegou um carro, o segurança da boate colocou ele dentro do veículo e foi embora. Simplesmente assim. A boate deu zero suporte para a gente, deram suporte para ele“.
Trecho do boletim de ocorrência sobre falta de suporte oferecido pela boate.
O que dizem os envolvidos
O g1 conversou, também no dia 15 de novembro, com o proprietário da boate Bofetada, Fábio Lima, que diz que o suspeito foi levado pelos seguranças até o carro do aplicativo para evitar algum tipo de linchamento.
“Eu disse para ela chamar a viatura da Polícia Militar sob acusação de injúria e difamação e, logo quando chegasse, comunicasse os seguranças para retirar a pessoa que a acusou“, disse Fábio.
“A parte que acusou a menina foi diretamente para o Uber com um segurança, para evitar qualquer tipo de linchamento em frente à balada, já que não havia nenhum policial pra conduzir as partes até a delegacia”, diz.
“A casa Bofetada Club nunca, e jamais irá, compactuar com qualquer caso de descriminação. Muito pelo contrário, prezamos a segurança de todos. E temos isso como um símbolo de luta pintado em nossas paredes”, afirma o proprietário, referindo-se a uma arte em grafite da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, desenhada na parede da casa.
G1 MG
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