Novo coronavírus força extinção de 114 empresas por dia em Minas Gerais
Turbulência na economia agravada pelo novo coronavírus levou ao fechamento de 3.440 negócios no estado em junho, com a eliminação de vagas, o que pressiona a taxa de desempregados, o auxílio emergencial e o seguro-desemprego. Registros de baixa podem estar subestimados.
A redução das atividades e a extinção de empresas levam ao aumento do desemprego, revelado nas filas de trabalhadores que pediram o auxílio emergencial concedido pelo governo(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press %u2013 30/4/20).
Com os duros impactos da crise sanitária sobre a economia, 3.440 empresas foram extintas em Minas Gerais apenas em junho, segundo indicadores da Junta Comercial do Estado (Jucemg). A mortalidade significa que quase 115 negócios (a média foi de 114,7) fecharam as portas por dia no mês passado, num cenário de retração observado em todo o Brasil. Pesquisa divulgada na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) indicou universo de 1,3 milhão de empresas que encerraram as atividades na primeira quinzena de junho, das quais 522,7 mil debitaram o fechamento aos efeitos da pandemia do novo coronavírus.
De acordo com a Jucemg, na comparação com junho do ano passado, 407 empresas deixaram de funcionar em Minas, aumento de 13,4%, tendo em vista que naquele mês de 2019 os registros de baixa foram de 3.033 organizações. Quando analisados os dados relativos ao primeiro semestre, o drama se confirma, com perda de 20.470 negócios, 2.160 a mais que o verificado (18.310) entre janeiro e junho de 2019. Nessa base de análise, houve acréscimo de 11,79% no volume de baixas.
Os números podem ser ainda maiores, uma vez que muitas empresas encerram as atividades sem que os donos ou contadores deem entrada ao processo de baixa do negócio na Junta Comercial. É o que alerta Guilherme Almeida, economista-chefe da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio/MG). “A Junta Comercial libera os dados de empresas extintas daqueles empresários que baixaram as portas e formalizaram esse fechamento. Então, a gente tem um gap daquelas empresas que encerram suas operações e não dão baixa. Esse número, não somente este ano, pode estar um pouco subestimado”, afirma.
Outro fator que prejudica o comércio, além do isolamento social – medida considerada essencial no combate à COVID-19, segundo especialistas na área da saúde –, é a mudança de perfil do consumidor. Neste momento de pandemia, muitas famílias optam por comprar somente gêneros de primeira necessidade, como medicamentos e alimentos, além de priorizar o pagamento de contas de luz e aluguel, entre outros serviços públicos.
“A gente avalia, por exemplo, uma empresa do setor do comércio, comércio varejista, estabelecimentos de vestuário, que aqui em Belo Horizonte está há mais de 100 dias fechados, por exemplo. São os maiores segmentos empregadores de mão de obra do comércio, e com essa situação de impossibilidade de operar, de mudanças no comportamento dos consumidores, das famílias que ou estão em isolamento social ou então circulam menos nas ruas e estão menos propensas as compras por impulso”, avalia o economista da Fecomércio/MG. Entre os segmentos mais prejudicados, segundo ele, estão os ramos de vestuário, eletroeletrônicos e móveis.
A pesquisa do IBGE mostrou que das mais de 522 mil empresas que encerraram as atividades sob os impactos do novo coronavírus, 518,4 mil, ou seja, 99,2% delas eram de pequeno porte, com até 49 funcionários. São negócios que já lutavam para sobreviver antes da COVID-19, e que não resistiram à crise. O panorama não é diferente em Minas e na capital.
“Se a gente pegar as características dessas empresas aqui em BH, 98% das empresas do comércio são micro e pequenas que já operavam antes mesmo da pandemia com fluxo de caixa apertado, com baixo poder de barganha junto ao fornecedor, ou seja, elas não tinham tanta perspectiva de continuar a desenvolver suas atividades”, diz o economista Guilherme Almeida.
Desemprego
A diferença de 407 empresas fechadas a mais no primeiro semestre deste ano em Minas, frente a 2019 representa empregos que desaparecem. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apurados até maio, Minas perdeu 111.555 empregos com carteira assinada neste ano. Houve 601.794 admissões contra 713.349 desligamentos, sobretudo em abril, quando a pandemia entrou em seu primeiro mês. Naquele período, 92.335 postos formais de trabalho foram fechados.
“São mais de 100 mil empregos perdidos em Minas Gerais, muito por conta da pandemia. Tivemos esse baque nas empresas. Mesmo aquelas que continuaram a operar nos diversos municípios do estado, a receita tende a sentir esse impacto, muito por causa do período de incerteza e mudança, como o comportamento do consumidor, desemprego, achatamento da renda, baixa confiança, que são pilares para a decisão de consumo”, destaca o economista da Fecomércio/MG.
Dos 853 municípios de Minas, Belo Horizonte liderou o triste saldo negativo de empregos formais, com 35.613 postos de trabalho fechados. Foram 130.093 admissões e 165.706 desligamentos. As demissões ocorreram em maior escala, assim como em todo o estado, no mês de abril, quando 21.865 pessoas perderam o emprego formal. Esse número tende a crescer, quando considerado o mercado informal de trabalho.
O economista Guilherme Almeida reconhece a importância do isolamento social para conter a ´pandemia, mas defende o que chama de ‘equilíbrio’ entre a questão sanitária e a econômica para não haver outros problemas sociais, uma vez que muitas famílias perdem renda para arcar com compromissos fundamentais, como o aluguel. Além do diálogo com o município, o economista também prega maior conscientização da população, para evitar aglomerações, higienizar as mãos e usar máscaras de proteção.
“A grande questão é que BH vem nesse isolamento social, que, sim, por um lado é necessário, obviamente, para a saúde da população, para manter sob as regras da Secretaria de Saúde, mas existe esse outro lado, que é o lado econômico. Acabamos gerando desemprego, achatamento da renda.”, afirma. Ele prega “ponderação”.
RETRAÇÃO
13,4%
Foi quanto cresceu o número de empresas que fecharam as portas em relação a junho de 2019
20.470
É o universo de negócios que foram extintos no primeiro semestre
11,79%
Foi o aumento dos processos de baixa de empresas em Minas frente a janeiro a junho de 2019
Auxílio emergencial
O governo federal desistiu de fracionar o pagamento das duas parcelas adicionais do auxílio emergencial nos meses de agosto e setembro.
Os mais de 65 milhões de beneficiários do programa de renda criado durante a pandemia de COVID-19 receberão mais dois pagamentos integrais de R$ 600 conforme calendário divulgado pelo Ministério da Cidadania.
Eles continuarão recebendo os valores primeiro em contas digitais para só depois conseguirem casar os recursos conforme cronograma estabelecido pela Caixa Econômica Federal – evitando aglomerações nas agências.
A maioria só conseguirá sacar o dinheiro de setembro em outubro, mas poderá fazer pagamentos e transferências antes disso por meio da conta digital.
Estado de Minas