Produtos derivados de combustíveis fósseis podem ter impacto na fertilidade

Plásticos, cosméticos, tintas, roupas sintéticas e até dentaduras. Em todos esses itens, pode haver a presença de produtos derivados de petróleo. Mas a exposição a substâncias desse tipo pode trazer efeitos que vão além do que possa imaginar o senso comum. Um estudo internacional, que foi capa da revista Nature Reviews Endocrinology, sugere que matérias com origem na indústria petroquímica, além da poluição, podem ter efeitos na fertilidade humana.

“Quem vive em centros industrializados está exposto a tudo isso”, destaca o pesquisador Luiz Renato de França, professor titular aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais.

Ele é o único brasileiro na equipe de pesquisadores liderada Niels Erik Skakkebaek, professor da Universidade de Copenhague (Dinamarca). Intitulada “Fatores ambientais no declínio da fertilidade humana”, a pesquisa foi feita a partir da revisão de outras 250 publicações.

O artigo se inicia destacando as mudanças nas taxas de natalidade após o processo de industrialização. Em algumas partes do mundo, incluindo o Japão e Alemanha, por exemplo, o número de crianças e adolescentes diminuiu 50% desde a década de 1960.

No Brasil, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), agência de saúde sexual e reprodutiva das Organização da Nações Unidas (ONU), divulgou em 2018 que a taxa de fecundidade foi de 1,7 filho por mulher. O nível considerado ideal para manter o tamanho da população é de 2,1 filhos por mulher.

Além de mudanças comportamentais, como o fato de a reprodução começar mais tardiamente, os pesquisadores trazem a hipótese de que problemas de saúde reprodutiva estão parcialmente ligados ao aumento da exposição humana a produtos químicos originados direta ou indiretamente de combustíveis fósseis.

França explica que substâncias químicas que vazam dos produtos industrializados podem desregular a ação dos homônimos. Entre elas, estão o bisfenol A e os ftalatos, ambos derivados dos combustíveis fósseis. Ao entrarem em contato com o corpo, mimetizam ou inibem hormônios como estrógenos e a testosterona.

No artigo, os pesquisadores afirmam que se a “atual epidemia de infertilidade estiver de fato ligada a tais exposições”, será necessária uma ação regulatória decisiva, sustentada por colaborações de pesquisa de diversas áreas.

“A solução no futuro tem que ser com estudos transdisciplinares”, afirma França.

G1 MG